Abrem-se as cortinas: 2023 chegou.

Virgínia Woolf escreveu belos livros, mas o meu texto favorito dela vem das suas resoluções de ano novo. Ela escreveu: "Parar de me irritar pela garantia de que nada vale a irritação. Às vezes ler, às vezes não ler. Sair, sim - mas ficar em casa apesar de ser convidada", lindo, não?

As pessoas me tomavam por uma pessoa calma, mesmo quando eu não era, isso porque eu não demonstrava bem, mas por dentro cada coisinha fora do planejado me irritava. Provas me irritavam, transporte atrasado me irritava, pessoas atrasadas me irritavam, mas em 2022 isso mudou. O ano 2022 mudou e muito minha vida, tanta coisa se transformou... mas desde o começo dele, fui mais desligado. No começo, fui desligado porque nada mais me importava, depois, fui desligado porque o que me interessava estava para além de qualquer possibilidade de irritação. Ando mais tranquilo, mais contente.

Ano passado também foi o ano que menos li, especialmente no final do ano e, para a minha surpresa, tem sido a melhor parte da minha vida. Eu já tive obsessão com leitura, lia sem parar um livro após o outro, devorei coleções, trilogias, aventuras épicas, clássicos, romances enormes, mas e daí? Lia porque estava fugindo, lia porque estava me gabando, lia porque alguém leu, lia porque queria agradar, lia porque era o que eu sabia. Mas não lia por prazer. Viver é muito melhor do que sonhar, agora sei disso. A leitura, portanto, mudou de papel recentemente na minha existência (obrigado, amor), hoje eu leio para integrar ao meu mundo, não para escapar dele. Eu leio porque enxergo e dialogo com o meu mundo, não me escondo dele. Então sim, às vezes ler, às vezes não ler.

E por último, mas não menos importante, ser consciente com a moeda da modernidade: meu tempo, não desperdiçar nem deixar que Cronos me devore antes que eu tenha terminado com a minha estória aqui.