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Meu caro amigo

  • adrielmatheus98
  • 23 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

Ele era um homem comum, um homem ordinário, que levava uma vida a altura da sua mediocridade, a rotina para ele era mais do que uma imposição ou conforto, era uma realidade, imposta como um decreto, como se um deus descesse lá do Olimpo e dissesse: "Meu caro, você agora é obra do nosso destino, nada fazes, nada pensas, nada almejas, que não venha das três irmãs". Mais do que isso, ele fora proibido de sonhar com qualquer alternativa logo no início, sua mãe o nomeou após seu pai com a adição de um "Filho" que servia, para todas as legalidades do país, como um sobrenome perfeito. Se quiser saber como ele era, bastava ver a fonte, seu pai, que morreu de tanto trabalhar.

João, pois sim, esse fora seu nome bordado nas suas toalhas que poderiam muito bem ser toalhas aproveitadas de seu pai, não tinha amigos, na sua cabeça comum, achava que a palavra amigo era reservado para todos aqueles nos quais os brindes eram dedicados, aqueles que andavam e gargalhavam juntos, João nunca gargalhou com ninguém. Ele conhecia algumas pessoas, claro, mais que isso, ele até saia para ir ao bar com outras tantas, mas nunca gargalhou. João não pode nem mesmo ser o protagonista dessa história, então vamos mudar de foco.

O museu de uma certa cidade, em um certo estado, localizado em um certo país, estava com uma linda exibição aberta ao público. O foco da exibição era o tema "Labirintos", muitos labirintos de todas as formas e concepções se mostravam ao povo que interessados por achar o centro das coisas, apareciam de longe para perceber que nunca se sentiram de fato perdidos até aquele momento. A maior peça era uma instalação de arbustos, um labirinto com paredes enormes, mas que no fundo não se ganhava em extensão de muitos por ai, pra ser honesto, não era nem de longe a maior atração para os adultos, com o cérebro já perfeitamente desenvolvidos, donos de si, que fugiam de qualquer criancice, ou tolice que envolvesse ficar suado enquanto sorria. Até que, certo dia, os jornais anunciaram que uma pessoa se perdeu nas paredes gramíneas! Mas o anuncio durou 5 minutos, porque era apenas João o perdido.

João demorou cinco anos para enfim se achar, saiu do labirinto como alguém que descobriu uma verdade secreta do universo. João, perdido que era, enfim completara o maior dos desafios, enfim matara seu minotauro e agora poderia fazer o que quisesse. O que fazer, João?

A resposta foi imediata, ele voltou pra casa, beijou profundamente sua esposa, como só quem está fora do labirinto sabe, trocou de roupa, subiu na varanda e voou.

 
 
 

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1 comentário


biarittner
28 de jan. de 2024

melhor escritor de todos os tempos

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