Seu livro # 1
- adrielmatheus98
- 16 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
Estou pensando em escrever um livro. Esse livro vai ser sobre eu, sobre você e sobre o resultado da nossa união, mas também vai ser sobre alguém perdido que finalmente aprendeu pra onde fica o norte, se preferir, esse livro é simplesmente sobre como a canção favorita de uma pessoa mudou de "Mr. Tambourine Man" para "Quase sem querer", desse modo, creio que fica mais mundano e, mais importante, já dá um senso para o leitor de como o narrador desse livro ama referências.
Também tive dúvidas se lançava esse texto por completo, escrevendo ele assim em segredo até o dia da revelação, ou se iria revelando aos poucos. Sabemos que sou péssimo com segredos e, verdade seja dita, novela sempre foi mais empolgante do que maratona!
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Parece que esse ano poderemos voltar para o presencial. Ano passado foi complicado, mas o isolamento garantiu, pelo menos, lágrimas escondidas. A verdade é que não tinha tempo, publicamente, pra sofrer, não podia, não queria. Ano passado eu trabalhei feito maluco, as férias que eu tirei, tirei no meio do semestre pra poder usar o tempo e estudar para as provas, não tive as melhores notas, nem mesmo no EAD – período em que eu acredito que todo mundo deve ter tirado 10, uns de maneira mais honesta que outros – não conseguia estudar e quando finalmente chegava na hora da aula, lá vinha novamente: irmão jogando (o que, claro, implicava gritaria) e vizinho com sua rave particular pra burlar a pandemia.
E como trabalhei. Tinha dias, não raros, que eu não conseguia comer e sim, eu sei, é contra a CLT, mas é a favor de se manter empregado. Comia na frente do computador com uma mão, enquanto a outra digitava comandos. Isso somado às crianças que eu precisava ajudar a fazer dormir, a gritaria diária enquanto eu estava em chamada… bom, não foi legal. A pior parte, contudo, foi meu antigo relacionamento.
Eu terminei, não estava aguentando mais. Mas sinceramente? Não acho que me recuperei dos traumas. Foi péssimo, e acho que eu não cheguei a amar a pessoa de verdade um minuto se quer. Talvez por um minuto, mas foi-se, não como a brisa que leva todas as dores, mas como um sopro forte do universo te mostrando o que tem de errado. Sim, eu sei, dizem pra não falarmos mal da ex depois que terminamos. É indelicado, eles falam. Mas eu me recuso a evitar isso, porque durante todo o relacionamento eu nunca falei mal, como hoje posso falar. Foi abusivo, foi dolorido e me transformou em um objeto quase, como diria Saramago. Mas eu terminei. Não foi fácil arrumar forças, ainda mais quando pra todo mundo ao redor parece que estava tudo bem, te faz pensar que você é maluco, exigente, ou babaca. Mas terminei.
Eu terminei e de súbito veio ódio em mim, todo ódio que me neguei sentir durante todo o período em que estive lá. Ódio, porque foi injusto comigo. Ódio, porque eu fui injusto comigo.
Mas aqui estamos, um novo ano, eu sempre gostei de marcações temporais, elas ajudam a limpar a mente e resetar tudo o que está bagunçado aqui dentro. Gosto de segundas, gosto de começos de mês, gosto do começo do ano. É um começo novo, ainda que com velhos ódios e velhas tristezas.
Estou animado com a volta para o presencial, animado é a palavra certa? Talvez aliviado. Estou aliviado de sair dessa barulheira, dessa bagunça, mas sinceramente não consigo ficar animado. Sei que o que a vida guarda pra mim é sofrer, e tudo bem, o meu pessimismo sempre foi do tipo otimista! Do tipo que verifica que a realidade é uma merda, mas isso é bom, porque vai ser muito difícil piorar. Estou em um curso que não sei qual parte quero seguir, enquanto todo mundo parece já ter descoberto. Estou em uma turma onde todo mundo saiu do EM e entrou na faculdade, coisa que nunca foi pra minha espécie, estou preso em uma amizade tóxica. Os dias serão tristes. Mas de tristeza tenho vivido, o que sempre foi ótimo para aproveitar músicas, poesia e filmes.
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